Escrever para não morrer

Há dias ou noites que a necessidade de escrever se faz mesmo sem inspiração e sem tema. Escrever para não morrer , não é apenas uma rima , muito menos uma solução.Quem escreve , entende !O cotidiano da vida , na maior parte do tempo , é muito chato e repleto de pessoas chatas. Eu sou um chato que me assumo como tal.Adaptar-me ao mundo é muito difícil .Como escreveu o poeta : "viver é muito comprido!Crescer é dolorido!"Sábios são os verdadeiros poetas , profetas de vidas , pois nascemos acompanhados pela morte , que chora , sofre , brinca e sorri conosco o tempo todo, até o derradeiro momento de nossa existência.A morte é a nossa mais fiel e inseparável companheira.Talvez por isto , sofremos sem entender o motivo , ou fingimos não entender.É muito menos dolorido buscarmos subterfúgios em amores irrealizados , ambições escondidas e sonhos frustrados , até mesmo sonhos não sonhados , ou pior , abortados.Paulatinamente vamos aprendendo a abortar nossos sonhos e assassinar os sonhos dos outros.Devagar nos tornamos aborteiros e assassinos de sonhos , alguns seres matam até os sonhadores.Em meio a chatice , a abortos , a assassinatos e assassinos , caminhamos nos fazendo e refazendo como seres humanos .Elaboramos nossas mediocridades e nossos crimes hediondos como se fossem atitudes de animais irracionais.Entretanto ,calculadamente ou automaticamente esquecemos que estes atos animalescos são cometidos por humanos que somos. São atitudes humanas e não de animais.O saudoso cantor Raul Seixas , compôs e cantou :"Há dias em que a gente se sente um pouco menos gente", assim me sinto em alguns dias.Então me resta escrever , desesperadamente escrever!Me recordo do poeta Raine Maria Rilke em Cartas a um jovem poeta , "se queres saber se és poeta , pergunte a si mesmo , conseguiria viver sem escrever? Se a resposta for sim , desista!" Eu , a cada dia que se passa , quanto mais envelheço , descubro que não conseguiria viver sem escrever.Se sou poeta verdadeiramente , ainda não sei , mas vou tentando me fazer na certeza de que sempre terei que escrever para não morrer . Ou seria para não matar?