Sempre se sentiu um estranho no mundo. Não igual a tantos que dizem comungarem do mesmo estranhamento e que suas vidas dariam um livro. Ele não , ao contrário da grande maioria , nunca acreditou na autoria do livro de sua vida antes de sua morte . Sua convicção da incerteza da vida e do mundo o levou a escrever ainda muito cedo em seu caderno de sonhos: "No final de minha vida saberei realmente de quem e do que gosto." Amigos , como sua velha mãe dizia , seriam poucos , contados nos dedos não somariam os cinco de uma mão. Mães e pais em 90% dos casos são grandes profetas para os filhos. Se os filhos soubessem , não quebrariam tanto a cara. A experiência de quem teve coragem de viver , aprender e reaprender com a vida forma um tesouro de sabedoria , herança incalculável para aqueles que tenham olhos e queiram enxergar , ouvidos e queiram ouvir.
Com sua estranheza em existir sempre viu o que ninguém vê , acreditou no que ninguém acreditava. Escolheu sua própria forma de viver , pois a receita que tantos outros conhecidos seguiram poderiam até dar certo , mas não atenderiam a sua necessidade de ser ele mesmo com seus sonhos , lutas , vitórias , derrotas , fracassos e sucessos... Sua estrada , ele mesmo abriria , o seu caminho ele construíria. A chegada ao mundo , na essência seria igual a de todos , porém a caminhada para o estranho seria sempre diferente , ele fazia e faz questão que seja. A chegada ao final , certamente será a mesma. Nasceu chorando , caminhou lutando , mas sempre de pé olhando e tendo como objetivo as estrelas do céu.Nunca aceitou rastejar , quem rasteja ou aceita rastejar é cobra. Gente estranha como ele sempre caminha ereto , de olhar firme e passos largos. Sua filosofia é de construção em meio a destruição. Construção de si mesmo enquanto humano. Nós humanos não nascemos prontos , vamos nos construíndo , acredita o estranho.
Os últimos dias do estranho na terrra poderão até ser normais como a de todos nós "normais" , contudo sua vivência terá sido muito mais rica devido a coragem de ter sido e não apenas parecido com o senso comum que molda a maioria de nós que não somos loucos , preconceituosos , invejosos , rancorosos , vaidososos , orgulhosos. Nós que nunca tiramos meleca no nariz , que nunca tivemos diarréia . Nós os perfeitos que jamais nos aproximaríamos publicamente do estranho.
O Estranho ainda não chegou ao final da caminhada , todavia tem absoluta certeza de que ainda se esforçará muito para cultivar seu estranhamento em um mundo que se torna cada vez mais igual e parecido na graça e na desgraça de cores , sons , cheiros e tudo o mais que leva a tantos a se sentirem menos.
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